Comitê de Avaliação de Conjuntura da Associação Comercial de São Paulo retrata apreensão e pessimismo dos agentes econômicos
Por João Batista Natali | Editor contribuinte
A recuperação da economia se tornou ainda mais lenta, num cenário que transporta nas costas os efeitos da greve dos caminhoneiros e que teme, pela frente, o que pode acontecer na sucessão presidencial.
Foi esse, em resumo, o quadro apresentado nesta quinta-feira (26/7) pelos participantes da reunião mensal do Comitê de Avaliação de Conjuntura, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
O encontro foi desta vez coordenado por Edward Tadeusz Launberg, conselheiro da associação.
Os indicadores macroeconômicos continuam mornos, com uma novidade. Em lugar de o PIB crescer este ano 1,5%, como indicado pela última pesquisa Focus –feita pelo Banco Central com economistas do setor privado -, o crescimento poderá ser um pouco menor: 1,2%.
É uma projeção interna do Instituto de Economia Gastão Vidigal, que faz parte da ACSP.
Os demais indicadores são um pouco mais conhecidos, como o déficit do setor público (1,4% para o déficit primário, bem melhor que os 10% negativos no pico da crise), um IPCA-15 em 4,53%, número próximo da meta, e os salários com crescimento anual de 1,2%.
Com números tão modestos, é compreensível que o varejo restrito (que não leva em conta veículos e material de construção) cresça este ano 3,6% com relação a 2017, ano bem mais afetado pela crise.
ELETRÔNICOS
O setor de eletroeletrônicos fechou o primeiro semestre com um crescimento de 2,8% na linha branca (geladeiras, fogões), mas com alta de 30% no segmento de televisores -algo perfeitamente previsível em razão da compra de aparelhos para a Copa do Mundo.
Os eletrônicos portáteis cresceram 13%, enquanto o emprego no setor decresceu 0,5%.
São números nacionais. Que, no entanto, segundo o IBGE, permanecem bastante tímidos se comparados ao pico de produção e venda registrado por cada setor na atual década.
Os móveis e eletrônicos, por exemplo, continuam 25% abaixo do patamar alcançado em 2014. Com relação àquele ano, as vendas do varejo são hoje 7,1% inferiores.
Quanto ao material de construção, comparado ao pico de 2012, a queda é de 16,9%. E os automóveis, comparados àquele ano, que também registrou a mais elevada atividade, a queda é de 41,9%.
A comparação serve para mapear o longo caminho que ainda precisa ser percorrido para que a economia se recupere do desastre que foi a recessão patrocinada pela gestão de Dilma Rousseff.
FARMÁCIA
O varejo de medicamentos e cosméticos cresceu em junho apenas 0,57%, com oscilações desiguais: menos vendas para os medicamentos mais caros, e um pouco mais para os mais baratos.
Existem no Brasil 85 mil farmácias. Elas hoje atravessam um duplo processo. De um lado, as seis grandes redes, capitalizadas por fundos estrangeiros, abrem indistintamente novas lojas para se manter em visibilidade e fazer frente à concorrência.
De outro lado, os pequenos varejistas partem para o associativismo. Pelo mecanismo, eles compram de determinados laboratórios a preços negociados de maneira coletiva. Mas as compras são individuais.
INDÚSTRIA
O setor industrial crescia 4,5% neste primeiro semestre, mas despencou 6,6% com a greve dos caminhoneiros.
Com isso, o acumulado em um ano caiu para 2%, e é mais que provável que números insatisfatórios (relativos a maio deste ano, quando o transporte rodoviário foi paralisado) tenham algum efeito até maio de 2019.
A indústria brasileira também se ressente da queda das importações argentinas, que eram um mercado importante e agora está com problemas.
Há por fim o fator inflação. Por mais que prossiga pouco elevada, ela registrou um pico em maio, em razão da baixa oferta de produtos de primeira necessidade.
Com isso, os índices inflacionários atingem também o poder aquisitivo das famílias. Com os preços estacionados num novo patamar, as compras tendem a cair.
CONSTRUÇÃO CIVIL
Um levantamento feito por associações comerciais junto a 530 varejistas de todo o país demonstra que as vendas subiram apenas 6% no último semestre.
O setor permanece pessimista, sem poder reajustar seus produtos, em razão dos estoques e da baixa demanda.
Grosso modo, as novas construções são adiadas, e o setor depende muito mais da compra de material para pequenas reformas.
EMBALAGENS
O setor atravessa um momento de transformação. Há estabilidade em produtos como embalagens para creme dental. Mas ocorreu paralelamente uma queda em iogurte, margarina e sorvete.
A venda de sabão em pó dentro de caixas de papelão está em queda, seguindo a tendência mundial pela qual o produto vem embalado em sacos plásticos.
Mas o papelão que deixa de ser consumido com esse produto é em grande parte redirecionado para a embalagem de produtos do comércio eletrônico.
E nesse setor há o exemplo de alimentos vendidos para o consumo imediato. Operam na cidade de São Paulo, por exemplo, 130 mil motoboys.
Não há ainda uma avaliação sobre o efeito das campanhas contra o uso dos canudos de plásticos, que representam uma quantidade bem marginal no uso daquela matéria prima.
FONTE: Diário do Comércio