1. Moeda, Crédito e Inflação
Dados do Banco Central (BC) de maio seguem mostrando desaceleração do crédito à pessoa física, que, em 12 meses, apresentou aumento de 1,4%, bastante abaixo da inflação medida para o mesmo período (9,3% – IPCA).
Em junho, a inflação (IPCA) desacelerou para 0,35%, ante 0,78% no mês anterior. Assim, no acumulado em 12 meses passou de 9,32%, registrado em maio, para 8,84%. A “quebra de safra” de 8,4%, estimada pelo IBGE, deve continuar pressionando os alimentos.
Após mudança no comando do Banco Central, o Relatório de Inflação, divulgado em 28 de junho, afirmou que a autoridade monetária “adotará as medidas necessárias de forma a assegurar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, em 2017” e que “o cenário central não permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias”. Ou seja, por enquanto, não houve sinalização de corte dos juros (SELIC) nos próximos meses.
2. Produção, Vendas e Inadimplência
Em maio, a indústria registrou queda -7,8% sobre o mesmo mês de 2015. Nos últimos 12 meses, o recuo foi de 9,5%, ante 9,6% e 9,7%, nos 12 meses finalizados em abril e março. Há sinais que o setor “parou de piorar”, mas preocupa a recente queda do dólar.
O varejo em maio acentuou a queda para 9% sobre o mesmo mês de 2015, pior dado para o mês desde 2001. Além da restrição ao crédito e da baixa confiança do consumidor, pesou o feriado de Corpus Christi, que este ano caiu em maio. No varejo amplo, que inclui veículos e material de construção, o declínio foi de 10,2%. Nos primeiros cinco meses do ano os recuos são de 7,3% e 9,5%, respectivamente.
O setor de serviços também acentuou queda anual para 6,1% em maio, a maior para o mês desde 2012. As maiores influências foram o declínio de 10,5% no transporte terrestre de carga e 15,1% no transporte aéreo. No acumulado do ano, o recuo foi de 5,1%. No acumulado dos últimos 12 meses, a perda foi de 4,8%.
Dados da ACSP/BVS do primeiro semestre mostram queda de 7% nas vendas parceladas e 15,2% nas vendas à vista, em base anual. Vale notar, que em junho, o varejo paulistano apresentou leve reação, com a chegada de forte queda da temperatura e um efeito calendário que gerou um dia útil a mais.
Pesquisa IPSOS/ACSP, de junho, apresentou nova alta para 70 pontos, ante 66 em maio. Os inseguros no emprego são 57% dos entrevistados e 52% declaram situação financeira ruim, A alta da confiança decorreu da melhoria nas expectativas, principalmente das classes A e B, e ainda não se reverteu em aumento das intenções de consumo. Assim, 68% dos entrevistados não estão á vontade para comprar eletrodomésticos e 73% para comprar carro ou casa.
O IBGE, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgou a taxa de desemprego de maio, que alcançou a 11,2% da força de trabalho, ante 8% no mesmo período de 2015. Os dados da PNAD (3.464 municípios) registram queda anual de 3,7% na massa de rendimentos (-1,4% na ocupação e -2,7% nos salários), No mês anterior a massa registrava queda de 4,3%.
Em maio, a inadimplência, segundo o Banco Central, segue estável há 5 meses, correspondendo a 4,3% da carteira. No mês de maio de 2015 estava em 3,8%, mostrando leve propensão a alta em termos anuais.
Finalmente, o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-BR), que funciona como uma espécie de “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), refletindo os dados da atividade de maio, apresentou contração de 4,92% em relação ao mesmo mês de 2015, e queda no acumulado dos últimos 12 meses de 5,45%.
Em síntese, os dados sugerem que é preciso aguardar os próximos meses para verificar se a melhora dos índices de confiança se converterá em retomada efetiva da atividade. Já a inflação retomou a tendência de queda, mas pode continuar pressionada pelos aumentos dos preços de alimentos, enquanto aqueles relativos aos “não alimentos” devem ceder, em decorrência da contenção da atividade e da fraqueza do mercado de trabalho.
3. Finanças Públicas
O mês de maio continuou mostrando recordes negativos para as contas públicas do País, pois o Governo Consolidado (União, Estados, Municípios e Estatais), de acordo com o Banco Central, voltou a registrar excesso de despesas não financeiras sobre receitas (déficit primário) de R$ 18,1 bilhões. Em 12 meses, o “rombo” alcança a R$ 150,5 bilhões (2,51% do PIB).
Como de hábito, o principal responsável pela deterioração fiscal continua sendo o Governo Central, (Tesouro Nacional, Banco Central e INSS), devido a que o crescimento das despesas obrigatórias, continua muito elevado, superando o aumento da arrecadação, prejudicado pela queda da atividade econômica. Segundo o Tesouro Nacional, durante os primeiros cinco meses do ano, enquanto as receitas totais do Governo Central (Tesouro Nacional, Banco Central e INSS) cresceram 3,1%, os gastos totais o fizeram em 11,3% (ambos sem corrigir pela inflação).
A expansão das despesas obrigatórias, com destaque para Previdência, abono, subsídios e subvenções, mais do que compensou o esforço de contenção dos dispêndios discricionários, que incluem o investimento público, que apresentou notável retração na mesma base de comparação.
Por outro lado, o Banco Central continuou registrando lucro com as operações de swap cambial, que de janeiro a maio alcançou a R$ 46,92 bilhões, atenuando os gastos financeiros do Governo consolidado, que alcançaram nos últimos 12 meses a 7,57% do PIB.
Somando-se esse resultado ao primário, obtém-se o déficit nominal ou total, que no acumulado de 12 meses até maio correspondeu a R$ 604,6 bilhões (10,08% do PIB). Esse saldo negativo nominal representa maior endividamento por parte do Governo, que já se aproxima de 70% do PIB, nível considerado “perigoso”, em termos de solvência de médio e longo prazo das contas públicas.
A nova meta fiscal anual, que permitirá um déficit primário de até R$ 170,5 bilhões, é considerável factível pelos analistas de mercado, considerando, inclusive, em sua determinação, a renegociação das dívidas dos Estados com o Governo Federal. De qualquer modo, constituiria um recorde negativo histórico, levando o déficit nominal a ultrapassar a casa dos 10% do PIB, um dos piores resultados mundiais.
Mesmo a aprovação do “teto” para a expansão dos gastos públicos, que fixaria sua taxa de crescimento em função da inflação do ano anterior, seria insuficiente para melhorar de forma significativa as contas públicas no curto prazo.
Nesse sentido, o Governo anunciou que vai propor ao Congresso uma meta de déficit primário de R$ 139 bilhões para 2017, inferior à do presente ano, mais, ainda assim, muito elevada. O “verdadeiro” ajuste fiscal passa por reformas estruturais de mais longo alcance, como a orçamentária, e, principalmente, a previdenciária.
4. Setor Externo
O recuo da demanda interna, tanto do consumo como do investimento, causado pela crise econômica e pelo dólar mais caro, ao reduzir a aquisição de produtos importados, continua sendo o principal motivo da melhoria das contas externas, desde o começo do ano passado.
Em junho, a balança comercial registrou um superávit de US$ 4 bilhões, com as exportações totalizando US$ 16,7 bilhões e as importações US$ 12,7 bilhões. No primeiro semestre deste ano, o saldo comercial foi recorde, no montante de US$ 23,6 bilhões, melhor resultado desde 1989, quando se iniciou a série histórica. As vendas externas somaram US$ 90,2 bilhões e as aquisições do exterior totalizaram US$ 66,6 bilhões que, medidas pela média diária, tiveram uma queda de 5,9% e 28,9%, respectivamente, em relação ao mesmo período de 2015.
Nos seis primeiros meses deste ano, recuaram as exportações de produtos básicos (-7,9%), de semimanufaturados (-1,5%) e de manufaturados (-4%). De outro lado, a mais acentuada queda no valor das importações permitiu acumular o robusto saldo comercial nesse período. Houve queda nas compras de combustíveis e lubrificantes (-48,9%), de bens de consumo (-27,5%), de bens intermediários (-26,8%) e de máquinas e equipamentos (-19,9%), em decorrência da queda do consumo, da produção e investimentos industriais.
Em ordem decrescente, a soja em grão e seus derivados, o minério de ferro, as carnes de frango e bovina, o petróleo em bruto e açúcar, foram os principais produtos embarcados pelo país e que, na sua totalidade, corresponderam a 38% do valor das exportações brasileiras no período. Como principais países de destino, a China, os Estados Unidos e a Argentina responderam, respectivamente, por 20%, 11% e 7%, do valor total das vendas externas.
As mesmas causas, recessão econômica e dólar apreciado, também afetaram a conta de serviços que são prestados e recebidos pelo país, cujo saldo negativo está se reduzindo, gradativamente, desde o ano passado. Entre essas contas, destacam-se os menores gastos de turistas brasileiros em viagens ao exterior, menor remessa de lucros das multinacionais estabelecidas no país e menores gastos com o pagamento de juros aos credores no exterior, e com aluguel de equipamentos e transporte de mercadorias. Nos primeiros cinco meses do ano o déficit da conta serviços caiu de US$ 17,0 bilhões, em 2015, para US$ 11,2 bilhões, neste ano. Na mesma base de comparação, com esses resultados, o déficit da conta “transações correntes”, que é a soma dos saldos da balança de mercadorias e da balança de serviços, recuou de US$ 35,3 bilhões para US$ 6,0 bilhões, no mesmo período.
Na conta financeira do balanço de pagamentos, deve ser destacada a entrada de investimentos diretos no país, realizados por empresas multinacionais. O Brasil, mesmo tendo perdido posições entre os países receptores de capital estrangeiro devido à crise econômica, continua atraindo fortemente esses capitais, cujo montante somou US$ 29,9 bilhões nos primeiros cinco meses do ano. Esses recursos, além de se destinarem ao setor produtivo, são aplicações em longo prazo e seu montante foi suficiente para cobrir o déficit das contas externas registrado neste período.
Quanto ao mercado cambial, o dólar teve forte depreciação de 10,7% em relação ao Real durante o transcorrer de junho, fechando o mês valendo R$ 3,21. A apreciação da moeda brasileira pode ser atribuída, entre outros fatores, as perspectivas otimistas dos empresários após a mudança de governo, sobretudo pelas medidas prometidas pela nova equipe econômica. No entanto, a principal causa da derrubada do dólar deve ser atribuída ao Banco Central que não realizou nenhuma intervenção no mercado cambial durante o mês de junho para evitar maior perda de valor da moeda americana.
A cotação do dólar recuou 17,7% no primeiro semestre, e praticamente voltou ao mesmo patamar que se encontrava um ano antes, registrando uma apreciação de apenas 3,5% em relação à moeda brasileira. Como os custos de produção foram maiores no período, a consequência é a perda de competitividade da indústria nacional, podendo comprometer o avanço das exportações de produtos manufaturados e estimular importações, como aumentar os gastos de turistas brasileiros em viagens ao exterior.
No início de julho, diante das preocupações externadas pelos exportadores, o Banco Central voltou a operar no mercado de câmbio através de leilões de swap reverso, equivalente à compra de dólares no mercado futuro, para apoiar a alta do dólar.
Em síntese, a evolução das contas do balanço de pagamentos, principalmente os sucessivos superávits alcançados pela balança comercial, indicam que o rombo das contas externas deverá estar zerado, no máximo, até os primeiros meses do próximo ano. Para que essa expectativa se concretize, espera-se que o governo não adote uma política de depreciação do dólar como prioridade para o controle da inflação, em detrimento da expansão do comércio exterior.