No início deste mês de fevereiro, os mercados internacionais foram subitamente impactados por apreciável aumento da volatilidade, medida por um índice denominado VIX, que, apenas em um dia, acumulou alta de 116%.
Ao mesmo tempo, as ações das principais bolsas norte-americanas apresentaram as maiores quedas em suas cotações desde 2012, gerando perdas bilionárias.
A análise predominante desse “crash relâmpago” repousa nos efeitos da expectativa do mercado financeiro de maiores elevações das taxas de juros básicas por parte do Banco Central dos Estados Unidos (FED), como forma de compensar a aceleração da inflação.
Esta decorreria do repasse a custos dos aumentos mais expressivos de salários, observados numa economia com baixas taxas de desemprego.
A perspectiva de maiores juros pagos pelos papéis do Governo norte-americano (Treasuries) levaram a uma venda maciça das ações e títulos mais arriscados, provocando a derrubada de seus preços de mercado.
Se esta correção de preços é algo temporário, apenas um “soluço” do mercado financeiro internacional ou permanente, no contexto de uma política monetária menos distendida por parte das autoridades monetárias dos países desenvolvidos, é algo desconhecido até o momento.
De todo modo, os efeitos dessa maior volatilidade do mercado financeiro internacional sobre a economia brasileira deverão se circunscrever aos comportamentos da Bolsa e da taxa de câmbio, provocando algumas flutuações.
Com relação à cotação do dólar, não se espera, porém, que haja mudança brusca de seu atual patamar, pois, em primeiro lugar, a consolidação do crescimento econômico mundial deverá assegurar o dinamismo atual das exportações, com recuperação dos preços das principais commodities embarcadas.
Em segundo lugar, na medida em que os aumentos dos juros internacionais configurem um processo paulatino, a manutenção de elevada liquidez nos mercados internacionais continuará assegurando importante entrada de capitais financeiros para o Brasil e os demais países emergentes. Em outras palavras, a situação externa continuaria sólida, o que se refletiria em uma taxa de câmbio mais “comportada”.
O que realmente preocupa é nosso cenário interno, com a proximidade de uma eleição presidencial marcada por excessiva dose de incerteza e desencanto geral pela política, cenário fértil para o exercício de “tentações populistas”.
Do ponto de vista econômico, o “sepultamento” da reforma da Previdência contribui para elevar o risco de insolvência fiscal.
Mesmo com o aumento da arrecadação, no bojo da retomada da atividade, o Governo brasileiro em todos seus níveis vive uma crise financeira de caráter estrutural, que, não equacionada contribuirá para elevar o risco-país.
Essas duas fontes de risco interno poderiam enfraquecer de forma importante o Real, aumentando a possibilidade de um repasse da maior taxa de câmbio à inflação, o que poderia provocar futuras elevações da taxa de juros por parte do Banco Central, diminuindo a intensidade do crescimento econômico durante os próximos anos.
Por Instituto Gastão Vidigal | Equipe de economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) / Diário do Comércio