Surpreendendo os analistas de mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre do ano, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), praticamente ficou estagnado em relação aos últimos três meses de 2015, ao recuar apenas 0,3%.
Contudo, na comparação com o mesmo período do ano passado e no acumulado dos últimos quatro trimestres, as quedas da atividade econômica foram mais intensas, correspondendo a 5,4% e 4,7%, respectivamente, sinalizando aprofundamento da recessão.
Pelo lado da demanda, na comparação com o período janeiro-março de 2015, o consumo das famílias, que é o componente mais relevante, apresentou queda de 6,3%, causada pela contração da renda e do crédito, pelas maiores taxas de juros e pela menor segurança no emprego, que têm derrubado sistematicamente a confiança do consumidor, minando sua disposição a gastar.
Outro destaque negativo veio dos investimentos produtivos e em infraestrutura (formação bruta de capital fixo), que, na mesma base de comparação anterior, tiveram retração de 17,5%, explicada pela menor oferta e pelo maior custo do crédito, pelos elevados níveis de estoques, e, principalmente, pela deterioração das expectativas dos empresários de todos os setores, em decorrência da grave crise política, econômica e moral pela que atravessa o país.
Apesar dessa contração do investimento ter sido menor do que a observada no quarto trimestre de 2015, contribuiu para reduzir ainda mais sua proporção no PIB (taxa de investimento), que era 20,9% no primeiro trimestre de 2014, já muito abaixo da média dos países emergentes (24%), para somente 16,9% (Gráfico 1). Isto não só implica em menor geração de renda e emprego no período atual como também em menor capacidade de crescimento futuro da economia brasileira.
Também houve queda no consumo do governo, na comparação com os três primeiros meses do ano passado (-1,4%), item que tradicionalmente mostrava expansão, e que representa basicamente as despesas com pessoal nas três esferas governamentais.
O setor externo foi o único elemento da demanda a dar contribuição positiva, pois as exportações aumentaram 13%, frente ao período janeiro-março, motivadas pelo maior câmbio e pela recuperação das cotações internacionais das commodities agrícolas, enquanto as importações tiveram queda de 21,7%, causada pelo enfraquecimento do Real e pela menor demanda interna de consumo e investimento.
Pelo lado da oferta, na mesma base de comparação, houve retração de todos os setores, com destaque para a indústria, cujo recuo – o oitavo consecutivo – alcançou a 7,3%, refletindo principalmente as retrações da indústria de transformação (-10,5%), construção civil (-6,2%) e extração mineral (-9,6%), decorrentes da acumulação de estoques, maior seletividade do crédito e queda na confiança dos empresários.
Os serviços, que constituem o principal setor produtivo da economia, também mostraram forte queda ante o mesmo período de 2015 (-3,7%), destacando-se no campo negativo o comércio atacadista e varejista (-10,7%) e o segmento de transporte, armazenagem e correio (-7,4%), que refletem a baixa demanda e a menor produção industrial.
Até mesmo a agropecuária, cujo desempenho anteriormente constituía exceção, apresentou contração de 3,7%, devido a choques climáticos adversos e à queda da produtividade do setor.
Apesar do panorama atual de intensificação da crise, diversos indicadores econômicos, cujo comportamento antecede (indicadores antecedentes) ou coincide (indicadores coincidentes) com o desempenho do PIB, começam a sinalizar arrefecimento da recessão, devido principalmente à menor base de comparação, não se descartando que também comece a haver alguma recuperação da confiança por parte de consumidores e empresários.